Quando Victoria Alda e Vinicius Oliveira descobriram que estavam à espera de um bebê, ela tinha apenas 12 anos; ele 16. Nenhum dos dois sabia o que era sustentar e cuidar de uma criança. Muito menos o quanto esse filho mudaria as suas vidas.
A solução inicial pensada por eles - que namoravam há um ano e meio quando se descobriram grávidos -, seria a mesma adotada por muitos outros adolescentes que passam por situação semelhante: o aborto.
O apoio da família de Victoria, no entanto, foi fundamental para que ambos desistissem da ideia. Graças e eles, a pequena Lara veio ao mundo e hoje está com 2 anos e 4 meses.
"Ficamos desesperados, mas minha família me deu total apoio. Minha mãe disse que muito pior seria se fosse uma doença", diz Victoria, hoje com 15 anos.
Casos como o do casal não são incomuns. De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), somente no estado, 40.350 adolescentes com idades entre 10 e 19 anos tiveram o primeiro filho em 2012. Os dados se referem apenas a crianças nascidas vivas.
E, embora os dados ainda sejam expressivos, estados e municípios brasileiros vêm registrando uma queda do número de casos de gravidez na adolescência. Na Bahia, por exemplo, o percentual de adolescentes grávidas reduziu de 46.611, em 2011, para 40.350, em 2012.
No Brasil, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, o número de mulheres grávidas nesta faixa etária passou de 673.045, em 2003; para 561.088, em 2011.
Segundo o órgão, a redução está diretamente associada à ampliação do acesso a métodos contraceptivos na rede pública e nas drogarias conveniadas do programa Aqui Tem Farmácia Popular, assim como ao fortalecimento das ações de prevenção e planejamento familiar. Mas, para a psicóloga que integra a área técnica de saúde do adolescente e do jovem da Secretaria Estadual de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Ana Paula Torres, é preciso fazer mais. "Houve uma leve queda nos últimos anos, mas ainda temos problemas", reconhece.
Um deles é que a média de incidência na Bahia de mães com faixa etária entre 10 e 19 anos (com filhos nascidos vivos) é de 21,37%, ficando acima da média nacional, que é de 19,31%.
Um outro problema é que, embora os resultados sejam positivos em boa parte dos municípios baianos, em outros a situação ainda é bastante preocupante.
Em alguns deles, a média de mães adolescentes ultrapassa os 35%. É o caso das cidades situadas no extremo sul da Bahia, região do estado que apresenta a maior proporção de mães entre 10 e 19 anos, a exemplo de Aurelino Leal (40,50%), Arataca (39,04%) e Itaju da Colônia (36,92%). Em Salvador, o percentual é de 15,44%.
Segundo a epidemiologista Greice Menezes, pesquisadora do Programa de Estudos em Gênero e Saúde (Musa) do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/Ufba), a gravidez na adolescência é um fenômeno heterogêneo e se apresenta de maneira muito distinta em algumas regiões.
Fatores
"O número de casos está diretamente associado a fatores como classe social, raça, nível de assistência e acesso à saúde, além de padrões sociais e culturais. E esses fatores se diferenciam de acordo com cada município", diz a profissional.
A psicóloga da Sesab Ana Paula Torres afirma que questões sociais e culturais podem influenciar diretamente no número de casos.
"Nas regiões mais carentes, o trabalho de conscientização junto aos pais e adolescentes se torna mais difícil. Em muitos lugares, falar de sexo na escola ou com o médico ainda é um tabu, embora muitas jovens e rapazes iniciem a vida sexual cedo", reflete.
Segundo ela, em alguns municípios, por exemplo, os pais não aprovaram a caderneta de saúde do adolescente, distribuída pelo Ministério da Saúde, que contém informações sobre menstruação, estágios do desenvolvimento da mama e pelos pubianos, vacinas, além de orientações sobre como se proteger durante a relação sexual.
"Muitos pais acham que a caderneta vai estimular os jovens ao sexo e o objetivo é apenas orientá-los para evitar uma gravidez precoce ou até mesmo um aborto no futuro", diz Ana Paula. Fonte: Fabiana Mascarenhas.
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