quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Polícia prepara instalação para Base Comunitária em Fazenda Coutos 3.

Era domingo de manhã, no final de semana passado, quando a garota de 11 anos saiu de casa para comprar um sorvete, na rua Cristóvão Barreto, em Fazenda Coutos 3, Subúrbio Ferroviário. No caminho, a menina se viu no meio de um fogo cruzado, quando traficantes das localidades de Santo Antônio e Bate Coração entraram em confronto.

A pequena foi atingida por disparos nas costas, pernas e nádegas. Ela foi levada ao Hospital do Subúrbio por policiais onde continua internada e, felizmente, não corre risco de morrer. O risco, no entanto, é iminente no dia a dia da área, escolhida pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) para a instalação da próxima Base Comunitária de Segurança.

A violência é o que mais aflige os moradores do bairro. Há 20 anos, a vendedora Maria Tereza Araújo, 70 anos, chegava ao local quando ainda não havia asfalto e nem ônibus. Hoje, Fazenda Coutos cresceu e os problemas vieram junto.

A Base Comunitária, segundo o governador Jaques Wagner, será inaugurada no início do próximo ano. “É mais provável que seja em janeiro mesmo”, disse o governador, em entrevista ao CORREIO. “Cheguei aqui, não tinha nem água encanada. Hoje, misericórdia! A violência cresceu demais”, diz dona Maria Tereza.

Após a experiência do Calabar, em abril deste ano, e do Nordeste de Amaralina, onde foram implantadas três bases em setembro, será a vez da rua Almeida Júnior receber 120 PMs, que terão como objetivo se aproximar da comunidade. “A situação tem que melhorar”, diz dona Maria.

Segundo o coordenador estadual de Polícia Comunitária, Zeliomar Almeida, a escolha do bairro se deve a três fatores. O primeiro diz respeito ao índice de homicídios na região, que é de 16 para cada 100 mil habitantes. Segundo dados do Centro de Documentação e Estatística Policial (Cedep), entre 2007 e 2010 houve um aumento de 46% no número de homicídios na região (172 em 2007 para 251 em 2010).

A SSP coleta dados de acordo com regiões chamadas Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp). O bairro pertence à Aisp 16, que incorpora também Periperi, São Tomé de Paripe, Paripe e Ilha Amarela. Nesses quatro anos, foram registradas 442 tentativas de homicídio na região.

Este ano, o panorama melhorou um pouco. Até outubro, em comparação com o mesmo período do ano passado, houve uma redução de 10% no número de homicídios (187 este ano contra 208 em 2010). Já a quantidade de tentativas aumentou de 85 em 2010 para 105 em 2011.


Estratégia
O segundo fator para implantação da base, que vai abranger um raio de 6 km, é que Fazenda Coutos 3 é considerado um bairro de posição estratégica. “Fazenda Coutos faz fronteiras com diversas comunidades, como o Bate Coração, a Comunidade do Plástico e a Nova Constituinte. É como se fosse um epicentro”, diz Almeida.

A violência é gerada pela rivalidade entre essas comunidades. “Quem mora no Bate Coração não pode ir para o Santo Antonio. Se alguém for para a área do outro apanha até morrer”, conta o motorista Valdemir Maciel, que há 17 anos mora no bairro.

Além da rivalidade, os moradores sofrem também com os jovens que são atraídos cedo para o tráfico. “Aqui tem menino de 10 ou 12 anos andando com pistola na mão. Tem que botar os policiais para fazer ronda nas transversais. Já vi até crianças caírem baleadas na minha rua”, diz uma dona de casa, mãe de nove filhos.

O medo dos moradores é justamente o terceiro ponto levado em consideração pela SSP. No bairro, moradores comprovam. “Aqui, todo mundo vive preso dentro de casa”, diz uma dona de casa.

Segundo o coordenador, a ideia é instalar o projeto o mais rápido possível na área. “Precisamos consolidar as ações no Nordeste para depois instalar em Fazenda Coutos”.


Geografia de bairro vai facilitar ação
Em comparação com as outras quatro bases, três instaladas no Complexo do Nordeste e uma no Calabar, o secretário da SSP Maurício Barbosa diz que a expectativa é que em Fazenda Coutos III a situação seja diferente e permita um melhor policiamento. “ Fazenda Coutos III será mais tranquilo que o Nordeste. Tem suas nuances, seus problemas, mas são ruas mais alargadas.

Tem uma geografia diferente que permite um maior policiamento. Calabar é um vale. Nenhuma base vai ser igual”, avalia. Para que a inauguração possa ocorrer dentro do previsto, segundo o secretário, é necessário que as obras sejam finalizadas. E a previsão é que até o dia 20 de dezembro elas sejam entregues. Fonte: Correio/ Anderson Sotero e Florence Perez(anderson.sotero@redebahia.com.br).

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