sábado, 15 de outubro de 2011

Rixa de traficantes amigos de infância motivou chacina em rua de Portão .

Diego Reis e Ricardo Santos: rivais de infância.
Os dois eram amigos de infância e se tornaram integrantes da mesma facção. Mas, na disputa  por pontos de venda de drogas, se separaram e declararam guerra um contra o outro. 

Assim tem sido, segundo a polícia, a rivalidade entre os traficantes conhecidos como Babão e Chalalau, ambos do bairro de Portão, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador.
Ricardo Silva dos Santos, 24 anos, o Babão, é apontado como o  líder do tráfico de Queira Deus, principal rua de Portão. Já Diego Reis da Silva, 25, o Chalalau, comanda a venda de drogas na localidade de Pé Preto. 

No domingo, a rivalidade dos dois resultou na morte de quatro moradores da região. Eles foram assassinados durante uma chacina que ocorreu na praça de Pé Preto, na rua Cristóvão Pires.
Segundo testemunhas, cerca de 30 homens armados, integrantes da facção de Babão chegaram no local em dois carros, atirando contra as pessoas que estavam na praça, por volta das 21h.


Casas e comércios fechados, escolas vazias; rotina em Portão mudou após chacina
Rixa
“Eles tinham uma convivência pacífica e começaram a brigar. Eles estão em guerra”, contou a delegada Maria Daniele Monteiro que está substituindo as férias do titular da  34ª Delegacia de Polícia, em Portão. Ontem, 30 policiais fizeram diligência no local, mas nenhum dos traficantes foi encontrado.
“Eles são muito próximos, mas com a necessidade de conseguir mais pontos de vendas para ter um lucro maior fez com que a amizade acabasse”, destacou. Sobre a chacina, a delegada considerou a ação como um aviso para os traficantes  de Pé Preto. “Eles (a facção de Queira Deus) deram um recado muito triste para o Pé Preto”.
Uma moradora que não quis se identificar contou que Chalalau, o rival de Babão, costuma andar armado pelas ruas de Pé Preto. “Quando acontece alguma coisa, ele saí com arma na mão. Ele é muito agressivo, mas só com os rivais dele”, disse.
O bando de Chalalau conta ainda com Anderson Reis da Silva, o An, irmão de Chalalau, e Alan Freire, o Alan Cara de Porco. Já Babão, costuma agir na região com o apoio de Wellington Nunes de Castro, o Mão, apontado como traficante de Lauro de Freitas.

Rua onde quatro pessoas foram assassinadas em uma chacina, em Portão
Pavor
“Eles já chegaram  atirando e gritavam ‘aqui não tem homem. Viemos tomar a boca de vocês’”, relembra uma moradora que passava pelo local com o marido e o filho de 4 anos. O momento em que os traficantes começaram a atirar é descrito ainda com pavor pela moradora. “Eu chorei quando vi aquela cena. Tapei o rosto do meu filho e escondi ele atrás do portão. Foi assustador”.
A estudante de 14 anos, Tainara Conceição Santos, a autônoma e vizinha da estudante, Jandira dos Santos, 43, e o jovem Natan Lima da Silva, 20, foram atingidos e morreram no local. A mãe da estudante, a auxiliar de serviços gerais, Odevânia Conceição, 34, passava pelo local junto com a filha, quando foram atingidas pelos disparos.
As duas tentaram correr, mas foram atingidas. Alvejada na perna esquerda, a mãe da garota foi socorrida para o Hospital Menandro de Farias, em Lauro de Freitas, e conseguiu sobreviver. 
Três dias depois, ainda foi encontrado o corpo de uma quarta vítima, o estudante de 15 anos, Abraão Felipe Ramos Marques.
O adolescente foi encontrado morto no quintal de uma casa que fica na rua Antônio de Souza, próximo à praça do Pé Preto, já em estado avançado de decomposição.
Olheiros
De acordo com a delegada da 34ª DP, os dois jovens mortos durante a chacina tinham envolvimento com o tráfico de drogas da região. “Eles eram olheiros do tráfico”, contou a delegada.
Apesar de a polícia ter identificado 10 suspeitos, responsáveis pela chacina, ninguém foi preso ainda. “Estamos fazendo operações constantes depois da chacina.
Já identificamos a maior parte dos cabeças”, disse o chefe do setor de investigação da 34ª DP, Jair Alves, sem revelar o nome dos outros integrantes.
Medo esvazia creche que atende 100 crianças
A comemoração antecipada do Dia do Professor não pôde ser realizada ontem na creche municipal Ana Santiago, em Vila Nova. Apesar da data ser comemorada hoje, os professores tinham organizado ontem uma festa para os estudantes. Mas, quando os portões abriram, às 7h, nenhuma das 100 crianças que frequentam a creche apareceu.
“Hoje funcionou, mas nenhuma criança apareceu. Avisamos aos pais que iria funcionar, mas nenhum deles trouxe seus filhos”, contou um funcionário da creche que não quis se identificar. Anteontem, as aulas tiveram que ser encerradas porque os pais vieram buscar as crianças por volta das 15h. “Sempre que acontece esse tipo de coisa, a frequência cai”, destacou o funcionário. 

Após denunciar o toque de recolher instalado no bairro, o CORREIO voltou ao local ontem. O clima ainda era de medo e as ruas permaneciam vazias. “Tem que  acabar com isso. Aqui tem pai de família deixando de ir para o trabalho”, reclamou um morador que não quis ser identificado. 

“Quando eu cheguei aqui, a gente dormia de porta aberta. Hoje, está horrível. Até dentro de casa a gente tem medo”, contou um outro morador que também não quis ser identificado. Ele disse ainda que pretende vender a casa em que mora há 32 anos e se mudar para Ipirá, a 200 quilômetros de Salvador. “Estão matando inocentes. Ninguém fica mais na rua quando começa a escurecer”, justificou. 

Para a doméstica de 38 anos, que não quis se identificar, até a luta contra o câncer sofre interferências da disputa pelo tráfico na região. “O carro da secretaria municipal tem medo de me pegar onde moro. Ele para e eu entro correndo”, contou ela. “Teve um dia que um deles, com arma na mão, mandou o carro parar, mas o motorista ficou com medo e passou correndo”. 

Polícia procura traficantes
As ruas estreitas e o matagal que cerca o bairro de Portão, em Lauro de Freitas, são algumas das dificuldades que a polícia enfrenta diariamente para encontrar os traficantes da região. Na manhã de ontem, três viaturas da Polícia Militar e duas do Comando de Operações Especiais, além de agentes da Polícia Civil, fizeram rondas no local. Cerca de 30 policiais saíram pelas ruas do bairro à procura dos suspeitos. A ação se estendeu até a tarde de ontem, mas ninguém foi preso. 

“A topografia de Portão é difícil, cheio de mata. Cada esquina tem olheiro. É uma comunidade pequena. Quando a gente chega, eles avisam e os caras fogem e se escondem”, explicou o chefe do setor de investigação da 34ª Delegacia de Polícia. Em nota, a assessoria da Polícia civil informou que “o efetivo vai intensificar os trabalhos de investigação na região e atuar em conjunto com as equipes da Polícia Militar, que também reforçou seus quadros no bairro, ampliando a segurança à população”. No local, moradores aprovaram a presença da polícia. 

Para a delegada Maria Daniele Monteiro, não há motivo para os moradores reclamarem de toque de recolher. “A polícia está movimentada para proteger a comunidade. Estão sendo feitas diligências. Nada disso existe para nós”, disse a delegada. Apesar de negar toque de recolher, ela disse que a preocupação da polícia é devolver a tranquilidade aos moradores. “Estamos com um efetivo muito bom. Isso deixa a comunidade aliviada”. Fonte:Anderson Sotero(anderson.sotero@redebahia.com.br) | Redação CORREIO.

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