Há quase quatro anos em obras, UPA de Itinga foi parar na Justiça
Ela era
para ser a Unidade de Pronto Atendimento médico de Itinga, maior
bairro de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Na
fachada do prédio se vê sinais de desgastes do tempo e informações
desencontradas: na placa, um lembrete do funcionamento 24 horas por
dia; ao redor, tapumes que a deixam fechada 365 dias no ano. A UPA de
Itinga, que já consumiu cerca de R$ 3 milhões dos cofres públicos,
era para ter sido entregue em fevereiro de 2012 e até hoje nunca
atendeu à população. Nesse meio tempo, houve a troca da gestão
municipal, o abandono da obra por uma empresa que nem mesmo a Justiça
localiza, a depredação do prédio por populares, uma ação
judicial que se arrasta e o dia em que a filha da dona de casa
Edvanildes dos Santos, 41 anos, teve febre e passou mal. “E quem
disse que a gente conta com isso aí (a UPA)?! Nem contamos, nem
sabemos para que serve essa obra que nunca se acaba”, diz revoltada
Edvanildes, que representa tantos outros moradores da cidade que
reclamam da carência de unidades de saúde públicas e de qualidade.
A
troca
- Quando deixou
a prefeitura,
em dezembro
de 2012,
a então
prefeita Moema
Gramacho (PT)
reuniu vereadores
para entregar
a UPA.
Segundo ela,
foi uma
forma de
prestação de
contas, para
dizer em
que status
deixava a
obra. “Só
faltava um
reservatório de
água e
uma central
de gases”,
afirma Moema.
Seu grupo
político havia
perdido aquela
eleição. Em
janeiro, o
progressista Márcio Paiva
tomou posse
como prefeito.
Para ele,
a ex-gestora
inaugurou um
equipamento inacabado.
“Ela apareceu
com uma
placa para
dizer que
foi ela
que fez.
Não se
inaugura algo
que no
outro dia
não funciona.
Todo o
problema começou
por aí”,
diz Márcio.
Moema rechaça
o termo
“inauguração”.
Hoje, a
obra que
Moema diz
ter entregue
97% pronta
em 2012,
se encontra
ainda em
obras e
com 95%
do total
concluído. O
que aconteceu
com a
UPA esclarece
a redução.
Fotografias registradas
por um
grupo de
vereadores mostram
a unidade
após ser
invadida por
populares, em
2013, mesmo
sendo vizinha
da delegacia.
Pias, portas,
pedras de
mármore e
outras peças
da construção
foram levadas.
Refazendo
- Nas fotografias
se vê
as infiltrações
nas paredes
e no
teto da
UPA recém-construída.
Para o
atual secretário
de Saúde
do município,
Bruno Barreto,
a obra
foi malfeita.
“A UPA
teve que
ganhar um
novo telhado,
as vigas
tiveram que
ser reparadas.
Toda a
parte elétrica
e de
oxigênio teve
que ser
colocada, além
dos reparos
nas infiltrações”,
enumera Barreto.
Quem retomou
a obra,
em maio
do ano
passado, foi
a Graute
Engenharia, que
havia realizado
uma obra
privada com
alguma desconformidade
em Lauro
de Freitas
(sem relação
com a
UPA). Foi
feito um
Termo de
Ajustamento de
Conduta (TAC)
que “indenizaria”
a prefeitura,
fazendo o
que fosse
necessário para
concluir a
unidade de
Itinga. “É
uma modalidade
de contrapartida
social. Embora
pareça que
não houve
custos para
o município,
na verdade,
estamos falando
de um
recurso que
poderia ter
outra destinação.
Há prejuízos”,
explica o
procurador do
município, Alexandre
Medeiros. Para a
prefeitura, esse
prejuízo e
os referentes
à depredação
por populares
devem ser
ressarcidos pela
JSA Construtora,
empresa contratada
por Moema.
“O prédio
nunca foi
entregue formalmente
à prefeitura
e, de
acordo com
a lei
de licitações,
é de
responsabilidade da
contratante zelar
pela obra”,
diz Medeiros.
Moema Gramacho
defende que
a empresa
deixou a
construção por
falta de
pagamentos. Já
uma auditoria
externa contratada
pela gestão
de Márcio
Paiva aponta
que houve
superfaturamento da
obra. Entre
as conclusões
da auditoria
estão os
pagamentos de
R$ 37
mil em
itens não
previstos em
contrato e
de outros
R$ 120
mil gastos
a mais
do que
o contrato
previa. A Sondagem
Engenharia e
Consultoria lista
ainda outras
15 irregularidades,
entre elas
a contratação
de um
projeto executivo
incompleto sem
licitação, falta
de licenciamento
ambiental e
existência de
pagamentos em
valores diferentes
para o
mesmo gasto.Moema
afirma que
desconhece a
auditoria e
que o
Ministério da
Saúde aprovou
a prestação
de contas
feita por
ela referente
a essa
obra.
Novo
prazo
-O Ministério
da Saúde,
que repassou
R$ 2
milhões para
erguer a
UPA e
comprar equipamentos,
se limitou
a confirmar,
em nota,
que acompanha
o caso.
O MS
também disse
que a
prefeitura teve
o prazo
de conclusão
da obra
prorrogado novamente
de setembro
de 2014
para o
início de
janeiro de
2015. Com a
conclusão da
obra, a
prefeitura recebe
um novo
repasse de
R$ 500
mil e
um prazo
de 90
dias para
colocar a
unidade em
funcionamento, sob
risco de
ser notificada.
“Entramos em
um outro
convênio da
ordem de
R$ 700
mil para
a compra
de equipamentos.
Os que
já foram
comprados em
2012 nem
todos devem
estar funcionando
mais”,
conta o
secretário de
Saúde, Bruno
Barreto. Com o
repasse das
duas verbas,
o secretário
garante a
derrubada dos
tapumes que
atualmente ostentam
cartazes eleitorais
para iniciar
o atendimento
de urgência
e emergência
na região.
Segundo o
secretário, a
judicialização da
questão foi
o que
dificultou a
entrega da
UPA em
junho de
2014. Nem mesmo
a UPA
ficou pronta
e um
novo prédio
começou a
ser construído
ao lado
dela, há
pouco mais
de 30
dias. “Queremos
separar o
atendimento pediátrico
do de
adultos. O
prefeito é
médico, tem
essa sensibilidade”,
diz Barreto.
A obra
fica pronta
em 12
meses, e
vai compor
o Complexo
de Saúde
de Itinga:
R$ 2
milhões de
investimento do
próprio município
e o
salto de
400 para
800 na
capacidade de
atendimento diário
no local.
Oficialmente, no
entanto, houve
a redução
do porte
da unidade
de II,
para I,
o que
implica na
redução no
número de
leitos de
observação e
de atendimentos
diários.
Construtora
não
é
localizada:
no
lugar
de
sede,
casas
- A JSA
Construtora, contratada
pela ex-prefeita
Moema Gramacho
(PT), é
acusada de
ter abandonado
a UPA
de Itinga
ainda tendo
a posse
do imóvel.
A prefeitura
de Lauro
de Freitas
também aponta
irregularidades e
superfaturamento na
execução do
equipamento que
recebeu mais
de R$
2,8 milhões
em repasses
federais e
municipais. A JSA,
no entanto,
parece ser
uma empresa
desabrigada. No
seu cadastro
na Junta
Comercial da
Bahia (Juceb)
e em
documentos do
processo de
licitação, ela
aponta como
sede o
número 4
da Via
Coletora, em
Cajazeiras.
Repórteres foram
até o
local e
lá há
duas casas
de número
4, uma
delas ao
fundo da
avenida. Nas
duas, moradores
antigos nunca
ouviram falar
da empresa,
nem têm
conhecimento sobre
o motivo
de terem
seus endereços
usados e
tentou contato
com o
telefone apontado
como sendo
da empresa
em um
outro documento:
o (71)
3286-9060 não
completa a
chamada. Alisson
e Adriana
Silveira de
Almeida, sócios
da empresa
que tem
capital social
de R$
1,5 milhão,
não foram
localizados. “Essa
casa sempre
foi de
meu pai,
aqui nunca
recebemos correspondência
ou trabalhamos
com construção”,
afirma a
atendente de
pizzaria Francisneide
Peixoto, 29
anos, moradora
da casa
simples em
frente à
avenida. “Só
se a
empresa não
tem mais
(sede), mas
a comissão
de licitação
confirmou que
ela estava
em pleno
funcionamento. Não
tenho queixa
da empresa”,
defende Moema
Gramacho. Um
outro endereço
apontado em
um timbre
de um
documento da
empresa, na
casa de
nº 2,
na quadra
C, da
Avenida Dorival
Caymmi, em
Itapuã, também
não existe.
A numeração
não corresponde
nem a
vizinhança sabe
do funcionamento
da JSA.
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